Ele diz que seu
antebraço foi feito sob medida para a curva da minha cintura. Repousa ali o
cansaço do dia, não sem antes escrever poemas inteiros nas minhas costas usando
só a ponta dos dedos. Um pouco de amor para aliviar o cotidiano. Nem penso, vou
logo enroscando minhas pernas nas dele e trato de ajeitar o cabelo para lhe
poupar o rosto. Ajeito também as coisas no meu peito como alguém que limpa a casa
para receber quem sempre esperou.
Dormir de conchinha tem
sido trabalho de equipe. Até Deus fez
sua parte, ao desenhar, com capricho, cada pedaço do nosso corpo, cada encosta íngreme,
cada monte que se debruça sobre nossa pele branca e deságua sempre no mesmo
mar. E cada gota úmida que se equilibra no penhasco das coxas corre para lá, e cada
curva que segue rente às estradas que se apresentam para o nosso deleite,
correm para lá. Tudo corre para o mesmo mar.
Mas, na verdade, somos apenas dois
corpos estreitados em um desejo sereno, acolhendo-se antes de dormir, e às
vezes pode parecer pouca coisa. Mas não é. É
de uma beleza sem tamanho. É tanto. É tanto.
Então, quando ele diz que seu antebraço foi feito
sob medida para a curva da minha cintura, é mentira. É só um jeito de
simplificar tudo. Ele sabe que na verdade somos falésias, encontros milenares de terra e
mar, esculpidos pela ação do tempo pelos últimos 180 milhões de anos. Somos feitos
dessa água que avança sobre os continentes do corpo e cava curvas só para que
no fim das tardes os amantes possam se encaixar.
Somos uma espécie de oração.
Solange Maia
Caraca! Isso é pura poesia,como sempre você arrasa! Sou sua fã!
ResponderExcluirGraciliano Ramos disse: " A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer".
ResponderExcluirComo você diz bonito, minha amiga! Parabéns!