segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Monumentalidade...

Adriana é sólida, majestosa, feita de linhas retas.
Rafael sorri jocoso, imponente, altivo, sem nunca perder a doçura.
São dois.
Mas só até que toque a primeira nota e deem o primeiro passo.
Nessas horas não se sabe se dançam ou se levitam.
Se são dois, ou se são muitos.

Deslizam por terras vulcânicas feitas de fogo e vento, desafiando a vertigem, domando os músculos e o ar.
Dançam com generosidade. Emprestam vida e história a cada movimento.
São autores e intérpretes, um casal. E têm a beleza desolada de quem busca o outro só para depois poder partir.
Perdem-se só para depois poder se achar.

O espaço que existe entre eles é denso, tangível, tocável.
Forjam ouro, esculpem pedra, talham madeira, escrevem poesia.
Cometem explosões de dureza que se transformam em mãos macias, que deslizam sinuosas pelo outro, movimentos sincronizados de curvatura precisa, perfeitos.
Viram música, segredos, rasgos, sulcos.                                  
Contam histórias de desejos e preliminares úmidas.

Uma grande obra feita de pequenos movimentos. Minúsculos detalhes com a grandeza das catedrais.
São fluidos, orgânicos, imensos.

Seus corpos cheios de possibilidades desafiam o ar, mesmo sabendo que não podem fazê-lo. Fundem-se a ele, o respeitam como mestre, como amigo. Cometem a entrega. Abandonam-se.
Têm esse dom... o da monumentalidade.
Firmes sobre seus pés morrem a cada passo, mas surgem generosos no passo seguinte.
Um presente que não temos como agradecer.
Com eles aprendi que dançar é uma ressurreição.

Solange Maia

para Adriana e Rafael...

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